Doenças de fundo são mais comuns do que se imagina no diagnóstico médico. Normalmente ignoradas, elas podem fazer parte do seu dia a dia sem que você perceba.
Desde pequenas irritações na pele até quadros de infecção sistêmica, as doenças de fundo são janelas de oportunidade para situações mais graves. Por isso, entenda como elas funcionam no seu corpo e qual a melhor forma de lidar com elas.
Doenças de fundo são aquelas que se instalam e permitem o aparecimento de outras doenças, cujo diagnóstico costuma ser mais fácil e mais recorrente. O termo “doença de fundo” é usado por médicos e nutricionistas para se referir a verdadeira causa de problemas recorrentes na saúde do paciente.
Por não darem sinais imediatos, as doenças de fundo escapam do radar dos primeiros exames e costumam partir de quadros clínicos persistentes. Um mesmo profissional que acompanhe um paciente há muito tempo tende a sugerir exames relacionados a doenças de fundo quando os problemas se repetem ou são difíceis de controlar.
Elas são comumente autoimunes – isto é, causadas pela intolerância do corpo a si mesmo – e se manifestam por meio de outras doenças associadas. Uma doença de fundo pode ter muitas origens: virais, genéticas, ambientais, sociais, etc.
Apesar de serem de difícil identificação, as doenças de fundo fazem parte do imaginário popular e doenças específicas são muito estudadas pelas áreas da saúde. Quando não são de origem genética é comum que existam grandes surtos antes de sua identificação, e um tempo ainda mais longo antes que a ciência descubra um tratamento adequado.
Abaixo separamos algumas das doenças de fundo mais comuns encontradas na população brasileira. São doenças cuja cura ainda passa por fases de teste e cujas causas ainda são discutidas.
A doença celíaca é uma doença autoimune acionada pela intolerância ao glúten. O glúten, proteína presente em diversos cereais, passou por grandes modificações genéticas ao longo dos séculos – tanto artificialmente em laboratório quanto via seleção humana de grãos – tornando-se um veneno para algumas pessoas.
Quem descobre a doença costuma descobrir que ela é a causa de vários sintomas recorrentes. Graças a dificuldade de absorção de nutrientes causada pela doença celíaca, ela acaba sendo a doença de fundo causa de outras, como disbiose, anemia e deficiências nutricionais em geral.
Doença de origem viral, podendo ser adquirida via contato com fluídos de indivíduos soropositivos, o HIV tem sua mortalidade inteira atrelada ao fato de ser uma doença de fundo. Diferente de causar males diretamente na pessoa que contrai o vírus, o HIV deteriora o sistema imune do infectado.
A partir disso, qualquer doença – que seria facilmente combatida pelo sistema imune – encontra um corpo em ótimas condições de se proliferar. No auge da epidemia de HIV, durante a década de 1980, era comum que pessoas que contraíssem o vírus viessem a óbito devido a doenças oportunistas, que de outra forma não passariam de um resfriado.
Justamente devido a essa epidemia os estudos para o diagnóstico da doença aumentaram em número e qualidade. Hoje uma doença de fácil diagnóstico, inclusa nos principais testes de DST, o HIV é uma doença de fundo que acomete mais de 600 mil brasileiros.
Outra muito conhecida é a Diabetes, seja ela do Tipo 1 ou Tipo 2. Uma doença de fundo ocasionada pela má gestão fisiológica da insulina – e consequentemente da glicose no corpo – a diabetes também acomete um grande número de brasileiros: 15,7 milhões, segundo o Ministério da Saúde.
De fato, o Brasil é o sexto país com mais casos da doença, e o primeiro na américa latina. A Diabetes pode ser de dois tipos: a Diabetes Melitus 1 (DM1), também abreviada para Tipo 1, e a Diabetes Melitus 2 (DM2 – Tipo 2).
A Tipo 1 é a mais rara, e é a que entra no rol de doenças autoimunes. Podendo existir desde o nascimento ou ser desencadeada por situações de estresse, ela passa a agir como uma doença de fundo, combatendo as células pancreáticas que produzem insulina.
Já o Tipo 2 surge em cenários de má alimentação, estresse ou ocasionado por outras doenças, e resulta na má absorção de insulina pelo corpo.
A Diabetes é uma doença de fundo, podendo causar problemas de pressão, circulatórios e de cicatrização, podendo acentuar casos de doenças já existentes no corpo.
As doenças de fundo, dada a sua natureza de camuflagem – costumam ser um problema escondido, por trás de doenças que levam o paciente ao hospital – são mais difíceis de se diagnosticar, apesar de não ser impossível.
Existem exames específicos e rápidos para a maioria das doenças de fundo. Entretanto, esses exames devem ser realizados de maneira ágil e o quanto antes possível: as doenças de fundo costumam demandar um tratamento constante e quanto mais tempo recebem atenção, menores são seus efeitos na saúde do paciente.
Para realizar o diagnóstico, um profissional da saúde deve solicitar o exame específico. O paciente pode sugerir o exame ao realizar uma visita ao médico ou nutricionista, que irá avaliar a necessidade do mesmo.
Outros, como exames de DST, podem ser feitos sem a necessidade de pedido médico em laboratórios específicos – alguns mesmo na rede pública de saúde.
Por serem distintas, não há sintomas comuns entre doenças de fundo. Entretanto, uma vez que todas elas têm por tendência debilitar o sistema imune, é importante ficar de olho se você apresenta um ou mais dos aspectos a baixo:
Doenças oportunistas e doenças de fundo são coisas distintas, mas intimamente relacionadas. Uma vez que criam condições favoráveis, debilitando o corpo, uma doença oportunista costuma servir de indício para a existência de uma doença de fundo.
A reincidência de doenças oportunistas – como candidíase, tuberculose, herpes, criptococose, toxoplasmose – costumam ocorrer em cenários de doenças de fundo não tratadas. Se você passa por reinfecções dessa natureza, fale com um médico.
Nem toda doença de fundo é autoimune, mas toda doença autoimune pode ser uma doença de fundo. Doenças autoimunes são aquelas que atacam ou fazem o corpo se atacar. Já as doenças de fundo são aquelas por trás do aparecimento de doenças oportunistas.
Uma doença autoimune costuma criar o cenário ideal para o aparecimento de doenças oportunistas. Isso faz com que atuem exatamente como doenças de fundo, dificultando o diagnóstico e a total recuperação do paciente.
As doenças de fundo são muito particulares em seus tratamentos, e cada caso deve ser analisado individualmente.
Entretanto, uma vez que as doenças de fundo normalmente diminuem a imunidade e dão brecha para doenças oportunistas aparecerem, a recomendação é um combate simultâneo a ambas.
Uma vez que as doenças oportunistas tenham sido controladas, deve-se verificar se há necessidade de um tratamento de reposição (para Diabetes, por exemplo, repondo insulina), de combate continuado (na forma de remédios para HIV) ou na diminuição de exposição a antígenos (como no caso da doença Celíaca).
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