Sabe aquela prisão de ventre ou diarreia que aparece semana sim, semana não, sem nenhum motivo aparente, seguidas de um quadro de profundo cansaço? A barriga fica dura ou super inchada e controlar os gases já não é tão simples, sobretudo quando têm um cheiro bem forte? Se você se identificou com esses fatores, fique atento, pois pode estar sofrendo de disbiose intestinal.
Disbiose é uma doença que ocorre quando há um desequilíbrio na flora bacteriana intestinal. Esse desequilíbrio reduz a capacidade de absorção de nutrientes e, com frequência, gera quadros inflamatórios pelo corpo.
As causas que levam uma pessoa a sofrer de disbiose são diversas. Mas, a que se encontra dentre as principais é o exagero. O alto consumo de alimentos industrializados, ultraprocessados ou ricos em gordura podem desequilibrar a flora intestinal e gerar uma disbiose.
Mas, além da má alimentação rica em gorduras e pobre em fibras, esse exagero também pode aparecer dissimulado de estratégia de saúde. Aqui, falamos de uma dieta rica – até demais – em proteínas.
A ingestão excessiva de proteína animal, por exemplo, aumenta a produção de compostos tóxicos às bactérias boas do intestino – importantes para a manutenção saudável da microbiota -, também levando a quadros de disbiose. Então, que tal ficar atento não só ao churrasquinho de domingo mas também aos pós-treinos de academia?
Outro fator que influencia no aparecimento de uma disbiose é o estresse. Por estarmos sempre em uma rotina corrida, tendemos a subestimar as consequências desse mal ao corpo. Além de ser capaz de nos deixar exaustos e com a imunidade baixa, o estresse também pode provocar erros na replicação de células e “ativar” doenças para as quais já temos uma predisposição. Algumas dessas doenças podem se manifestar por meio de quadros de disbiose.
Portanto, o cuidado com as reações do corpo às situações do dia a dia também é muito importante para a manutenção da saúde do intestino. Os sintomas de disbiose não tratados adequadamente podem levar ao desenvolvimento de intolerância à lactose, doença celíaca e síndrome do intestino irritável.
Os sintomas mais comuns de serem associados à disbiose são prisão de ventre ou diarreia frequente, distensão abdominal (ou barriga inchada), gases com cheiro bastante forte, náuseas e vômito. Contudo, um desequilíbrio na flora intestinal pode afetar muitas outras partes do seu corpo, além da barriga.
No corpo da mulher, por exemplo, a disbiose também pode gerar candidíase de repetição, uma vez que tem potencial para desequilibrar a flora fúngica vaginal.
Além disso, dores de cabeça, cansaço constante, doenças de pele como acne resistente e urticária, e sintomas de depressão e ansiedade, também podem se originar no intestino. A falta de absorção de alguns nutrientes impacta diretamente a produção de hormônios e outros compostos importantíssimos para o corpo, que refletem em doenças secundárias geradas a partir da disbiose.
O desequilíbrio na flora bacteriana intestinal causado pela disbiose, ocorre quando há uma diminuição das bactérias boas e um super crescimento das bactérias ruins para o intestino. E isso se dá por algumas razões:
Quantas vezes você já ouviu falar que uma pessoa tinha o metabolismo fraco ou devagar e, por isso, tinha dificuldade de emagrecer? Saiba que esse tal “metabolismo” pode ser uma predisposição genética à disbiose, pois dificuldade para emagrecer ou ganhar massa magra também pode estar no hall de sintomas causados pela doença.
Segundo o médico Ricardo Barbuti, do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina na Universidade de São Paulo (FMUSP), essa condição genética pode se apresentar antes mesmo do nascimento, uma vez que as primeiras bactérias, vírus e fungos doados ao bebê, vêm da mãe. Dessa forma, se durante a gravidez a mãe já tiver algum desequilíbrio microbiótico, isso pode ser passado para o bebê.
Se esta condição já tiver sido criada, esse intestino terá maiores chances de ser mais permeável, estando mais suscetível a desequilíbrios. Esses desequilíbrios geram inflamações que são informadas ao hipotálamo e em seguida à hipófise, que é a responsável pela administração das nossas glândulas produtoras de hormônios, como as supra renais, tireoide, testículos e ovários. O desequilíbrio nessas glândulas, sobretudo na tireoide, podem alterar o controle do peso, a fome e a noção de saciedade.
Um estudo realizado na Universidade de Washington, com 105 pessoas em um programa de emagrecimento, indicou que um caminho para o tratamento de obesidades pode estar na identificação e tratamento de disbioses.
Essa possibilidade foi apontada depois de observarem que apesar de os marcadores sanguíneos dos pacientes que conseguiram emagrecer e dos que não conseguiram emagrecer continuarem iguais, a microbiota de cada um estava diferente. As pessoas que perderam ao menos 1% do peso corporal durante o programa, tinham maior quantidade de enzimas bacterianas boas no intestino.
O mesmo estudo realizado posteriormente no Departamento de Nutrição da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, chegou ao mesmo resultado.
O intestino é considerado no meio médico como o segundo cérebro do corpo. E, para fazer jus a essa fama, esse órgão é capaz de produzir mais de 30 hormônios essenciais para o bom funcionamento do nosso organismo. Mas ele não merece atenção redobrada somente pela diversidade.
Cerca de 95% de toda a serotonina – mais popularmente conhecida como “hormônio da felicidade” – é produzida pelo intestino. Esse hormônio é responsável por permitir a conexão entre neurônios, auxiliando no ritmo cardíaco, no sono, apetite, humor, memória e temperatura do corpo.
Quando a disbiose se instala, há uma queda profunda na produção desse hormônio e todas essas funcionalidades do corpo ficam “defeituosas”, de maneira que sintomas de depressão e ansiedade podem surgir, associados a mudanças no comportamento com a comida. Pode haver um aumento considerável de apetite e vontade por doces, alimento predileto das bactérias ruins do nosso intestino.
Os impulsos gerados por esse desequilíbrio podem ser tão fortes ao ponto de gerar compulsões alimentares, que agravam os quadros de disbiose e psicológico do paciente.
O diagnóstico de disbiose intestinal pode ser realizado por meio de exames de urina, fezes e sequenciamento genético.
Para os exames de fezes e urina é realizado a cultura e para o sequenciamento genético, o microbioma. Este último faz parte de um teste genético com sequenciamento do DNA das células do intestino, a fim de identificar com maior precisão qual o desequilíbrio que está sendo gerado na sua microbiota.
De modo geral, os tratamentos para disbiose intestinal envolvem mudança de hábitos alimentares junto a uma dieta equilibrada e rica em probióticos, como iogurtes e leite fermentado.
Para casos pouco mais graves, seu médico ou nutricionista pode recomendar a suplementação probiótica e em casos muito graves, um transplante fecal.
O transplante fecal é um tratamento que baseia-se na transferência de uma flora intestinal saudável para colonizar uma flora intestinal doente. O procedimento é semelhante a um exame de colonoscopia e a doação geralmente é feita por amigos e familiares, não havendo a necessidade de páreo sanguíneo.
Além de alternativa de tratamento para doenças intestinais, o transplante fecal também já vem sendo testado como possível cura para o Alzheimer e alguns cânceres, uma vez que já foi observada a possibilidade de transferência genética por esse tratamento.
Mas, apesar de ser uma cirurgia pouco invasiva, essa é uma alternativa adotada apenas para quem não conseguiu resposta a nenhum outro tratamento para doenças intestinais, como a disbiose.
A correção da disbiose pode trazer melhorias profundas na qualidade de vida de pessoas com diabetes, autismo, obesidade, depressão, ansiedade, doenças autoimunes – como a doença celíaca, alergias respiratórias e dermatites -, assim como no tratamento de doenças degenerativas, como o alzheimer.
Mas, independente da gravidade, fuja de dietas restritivas sem um acompanhamento profissional. Isso pode resultar em compulsão alimentar pelo alimento proibido e agravar o quadro.
Come de tudo, tem hábitos saudáveis mas se identificou com os sintomas citados? Procure um profissional para ajudar. Jogar para debaixo do tapete e deixar que o tempo resolva tudo, não é uma solução quando se trata de saúde.