Doenças autoimunes e transtornos alimentares possuem uma relação mais íntima do que pensamos. Essas relações ocorrem de muitas formas, e entendê-las é fundamental para quem se encontra ou corre risco de desenvolver uma doença autoimune. Seja pelos genes, hábitos ou meio, é importante tê-las sempre em mente.
As doenças autoimunes são doenças nas quais o sistema imunológico ataca, por algum motivo, as células do próprio corpo, confundindo-as com células estranhas. Esse ataque pode ocorrer de maneira generalizada ou no caso de células específicas, caracterizando sintomas e doenças próprias.
Os motivos que levam a essa confusão ainda são explorados pela ciência. Diversas correlações – gênicas, ambientais e de hábito – já foram traçadas, com grau maior ou menor de precisão. Sua grande variedade as torna de difícil detecção e análise.
Algumas doenças autoimunes tornaram-se famosas pelo aumento do número de casos ou suas consequências. Abaixo listamos as três mais buscadas por pacientes em consultas médicas:
A doença celíaca é uma das doenças autoimunes. É desencadeada pelo consumo de glúten em indivíduos com predisposição genética. Ou seja, acomete alguns. A doença celíaca é considerada mundialmente como um problema de saúde pública e é desencadeada por fatores ambientais e sociais.
A doença celíaca possui gradações de intensidade, o que a torna uma doença que pode – e cientificamente se acredita – assolar diversas pessoas que não possuem o diagnóstico. Seu tratamento é dietético, ou seja: exclusão do glúten. Tarefa mais difícil do que muitos pensam, pela prevalência da proteína em diversos produtos no mercado e o risco de contaminação cruzada.
Outra doença famosa e considerada atribuição de saúde pública – o que motivou o SUS a incluir em seus tratamentos a insulina gratuita – a diabetes é dividida em diabetes tipo I e diabetes tipo II. Ambos os tipos implicam em complicações na absorção de glicogênio.
A diabetes consiste na destruição ou não reconhecimento de insulina, hormônio necessário para a absorção de glicogênio. Sua ausência pode aumentar os índices glicêmicos no sangue, causando fadiga, tontura e problemas de cicatrização.
A doença de Chronn é uma das doenças caracterizadas como doenças do intestino irritável. É um processo inflamatório que normalmente acomete os intestinos grosso e delgado, podendo causar dificuldades na absorção de alimentos, além de provocar dores, diarréias frequentes e o aparecimento de massas abdominais.
É uma doença sem causas descobertas pela ciência. Acomete pessoas de todas as idades, apesar de aparecer com mais frequência em indivíduos da terceira idade.
Já os transtornos alimentares estão na outra ponta do espectro da saúde. Até agora falamos de problemas fisiológicos. Provenientes do corpo. Os transtornos alimentares estão mais próximos da saúde psicológica – apesar de afetarem em igual medida, e por vezes até mais, os que são acometidos por eles.
Transtornos alimentares afetam em sua maioria as populações jovens. São caracterizados por usos abusivos de substâncias como diuréticos e laxantes, consumo exagerado de alimentos, privação extrema de nutrição e outros comportamentos correlatos. Uma relação disfuncional com a comida.
Existem diversas causas catalogadas para os transtornos alimentares. Entretanto, o modelo médico de maior adoção é o multidimensional. Neste modelo, se levam em conta fatores: genéticos, familiares, sociais, psicológicos e culturais, para citar alguns. O número de casos – em torno de 1% da população jovem feminina, em 2010 – é ainda considerado como subestimado: a documentação é mais fácil nos casos extremos.
Abaixo separamos alguns exemplos de transtornos alimentares mais comuns:
A bulimia é uma doença que aflige mais de 2 milhões de brasileiros – entre diagnosticados e não diagnosticados. Ela consiste no consumo compulsivo de alimentos, seguido de um sentimento de culpa e algum comportamento de auto punição. Esse comportamento pode ser desde um sentimento de apatia e depressão, até a indução de vômitos e diarréias.
O Mínimo para Viver é um filme da Netflix que relata a realidade de quem sofre com essa doença. As causas são multidimensionais, e o tratamento precisa necessariamente ser também.
A anorexia nervosa, por outro lado, é um transtorno alimentar que se refere ao desejo ilimitado, irracional e socialmente engendrado de estar dentro de determinados padrões de magreza. Para isso, o anoréxico não mede esforços. Excesso de exercícios físicos, privação de alimentação e indução de vômitos e diarréias são comuns entre as pessoas que sofrem desse transtorno.
Outros comportamentos que também aparecem é a obsessão pela contagem de calorias, o ato contínuo de se pesar e a insatisfação com a própria aparência.
A compulsão alimentar é o extremo oposto da anorexia nervosa. Enquanto a anorexia provoca uma repulsa pelo alimento, a compulsão se define pela atração. A pessoa compulsiva alimentar perde o controle sobre o que, quanto e como consome os alimentos.
Ela se caracteriza pela perda do paladar para o que se está comendo e pelo consumo na ausência de fome ou necessidade nutricional. Procura-se satisfazer ansiedade, tristeza ou outros sentimentos negativos com descargas hormonais associadas ao gesto de se alimentar.
Agora que você conhece as principais doenças autoimunes e os transtornos alimentares e entende como eles se manifestam, não é difícil entender suas relações. Separamos os três principais tipos de interações entre os dois grupos.
A doença autoimune é muitas vezes tratada com dietas restritivas e uma hipervigilância com a maneira como a pessoa se alimenta. Essas preocupações, que são válidas, podem também engatilhar situações e reforçar padrões que ativam transtornos alimentares.
As dietas que acompanham doenças autoimunes precisam, por isso, ser aplicadas com extremo cuidado. Tratar a presença dessas doenças – com as quais é possível se viver uma vida plena – com exaspero ou alarme pode provocar um efeito reverso. A hipervigilância das refeições cria um novo transtorno, além de não ser a melhor maneira de combater o original.
Por outro lado, é possível que uma predisposição genética nunca se manifeste de fato. Uma pessoa pode ter os genes da doença, e não ativá-la. Porém, um consumo ou irritação ao sistema digestivo aumentam em muito as chances de surgimento de doenças autoimunes.
Transtornos alimentares provocam muita irritação ao sistema digestivo. Seja pela ingestão exagerada de alimentos, pela falta dos mesmos, ou pela provocação ativa com o consumo de substâncias. Essas irritações podem provocar inflamações, resultando no aparecimento de doenças autoimunes que não entendem a causa do problema, mas combatem o sistema já frágil.
Quando abordamos os transtornos alimentares e doenças autoimunes, seja de forma separada ou em conjunto, é necessário ter em mente dois pontos:
O aspecto psicológico pode envolver desde as expectativas e ansiedades envolvendo a descoberta da doença quanto os motivadores do transtorno. Por vezes, um será a causa do outro.
Aqui a abordagem é feita em conjunto com um time de especialistas, nos quais se incluem gastroenterologistas, nutricionistas, psicólogos e psiquiatras. Esse time precisa ter consciência da importância de cada uma das outras partes no processo, e todos precisam fornecer uma rede de suporte ao paciente.
Enquanto o aspecto psicológico será abordado, o fisiológico deve ser atendido tendo os sentimentos e emoções do paciente em conta a todo momento. O tratamento, afinal, é para ele. Uma abordagem que não seja empática pode provocar uma repulsa pelo cuidado necessário, acentuando os problemas já existentes.
Se identificou com algum dos sinais? Consulte um médico ou nutricionista.